sexta-feira, 29 de maio de 2009

CRÔNICA DOS FOLHETOS



Meus folhetos evangelísticos acabaram! Ontem, no início da noite, após sair do trabalho, fui à uma livraria evangélica no centro da cidade, onde eu havia comprado da última vez e, naquela ocasião, encontrei dois títulos que, se não eram excelentes, serviam para, pelo menos levar o pecador perdido à reflexão. (Leia mais...)

Chegando lá, fui à estante onde ficam os folhetos e, depois de alguns minutos procurando, lendo e relendo, cheguei à terrível conclusão: não havia nenhum folheto que servisse para evangelizar. Que surpresa desagradável! Não é que não havia folhetos, mas eles não eram evangelísticos. Havia vários títulos. Um deles, que me chamou a atenção, parecia indicar o caminho para o céu. Porém, iniciava com uma sugestão de que, se alguém quisesse ser salvo, deveria ir a uma igreja evangélica. Coloquei-o de volta no seu lugar. O primeiro item deveria ser: arrependa-se dos seus pecados. Reunir-se com outros crentes é consequência desse arrepender-se. Havia outro que também era uma pergunta: “Para que time você torce?”. Eu nem quis ler.
Em resumo, não encontrei qualquer folheto que dissesse ao perdido “você é um pecador que precisa se arrepender dos seus pecados” e completasse dizendo: “Jesus Cristo é o único Caminho para o céu”. Todos eles colocavam o homem e suas necessidades no centro e faziam de Deus apenas um doador de bênçãos.
Naquela hora, minha mente levou-me de volta a vinte e poucos anos atrás, nos anos 80, naquela mesma loja, escolhendo folhetos. Não era raro eu passar por lá procurando folhetos e bons livros, os quais eu sempre encontrava. Os folhetos evangelísticos em sua grande maioria faziam jus ao nome "evangelísticos". Fiquei pensando nas várias vezes em que passei algum tempo ali lendo-os, não para ver se achava algum bom, mas para escolher um melhor, no meio de três ou quatro bons títulos e textos. Confesso que quase chorei! Porém, engoli o choro e me retirei cabisbaixo.
O que aconteceu num período de tempo tão curto? Vinte e poucos anos não é tanto tempo assim. Mas neste curto período de tempo, senti uma mudança abrupta e radical na Igreja, e, lamentavelmente, para pior. Muitos podem me censurar, principalmente os mais jovens, dizendo que a Igreja nunca experimentou uma fase tão maravilhosa, com tanta gente lotando os templos. Eu, porém, digo que, na maioria dos casos, o que temos hoje é uma quantidade sem qualidade.
Se alguém me julga saudosista e acha que estou desprezando o que Deus tem feito nos dias de hoje, eu peço apenas que atente para o caráter da maioria dos crentes (e aqui me incluo, obviamente). Nunca houve tanta mornidão. Assemelhamos-nos ao mundo em vários aspectos: mentimos, adulteramos, nos divorciamos, não cumprindo nossos votos feitos diante de Deus, somos infiéis nos contratos, roubamos e alimentamos uma terrível idolatria, cujos deuses são o dinheiro, o bem-estar a todo custo e os prazeres, para satisfazer nosso eu, sob o pretexto de que “somos filhos do Rei e devemos ter tudo de bom”.
Não acho que eu consiga dar uma explicação satisfatória ou uma resposta completa à razão de estarmos em decadência (e quando digo isso, refiro-me à cristandade em geral). Eu bem poderia dizer que o culpado de tudo é o diabo – e não sou tolo de dizer que sua mão não está nessa situação, claro que está – mas ele apenas se aproveita das brechas que temos aberto. A culpa é nossa, que absorvemos idéias humanistas no seio da Igreja e as temos colocado em prática.
Todos os folhetos que vi hoje tinham mensagem de cunho humanista. É o homem no centro e Deus à sua disposição, pronto para abençoá-lo, guiá-lo, dar-lhe todos os bens materiais e enchê-lo de prazeres deste mundo. Deveríamos nos humilhar, nos arrepender e voltar ao primeiro amor. Nosso coração está dividido. A maior parte está colocada em nós mesmos, e o que sobra (se é que sobra algo) damos a Deus. E Deus não aceita o resto do nosso amor. Ele quer 100%.
Grande parte da cristandade vê Deus como um gênio da lâmpada, sempre pronto a cobri-la de bênçãos. A pregação do evangelho hoje consiste em chamar o homem para que venha e receba toda bênção que Deus tem para ele: casa, carro novo, dinheiro no banco, saúde e todo tipo de prosperidade. Ou seja, tudo de bom! Não há, porém, a grave e solene advertência aos pecadores “arrependei-vos”! O ímpio não é mais chamado de pecador e o pecado agora se chama fraqueza ou qualquer outro nome que não “escandalize”.
Podem me chamar de saudosista. Podem dizer que não estou evoluindo. Sei que os anos 80 não são referência para a Igreja. Já havia muitos problemas lá, mas sinto saudades de entrar numa loja de artigos evangélicos, dirigir-me a uma prateleira e ter que escolher entre vários folhetos que dizem a mesma coisa: “Jesus Cristo é o único caminho e salva a todos aqueles que se arrependem de seus pecados e creem nele” e, naquela época, havia muitos.

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