segunda-feira, 20 de outubro de 2008

ADVERTÊNCIAS À IGREJA ATRAVÉS DE EXEMPLOS DE PERSONAGENS DO VELHO TESTAMENTO


"Ora, tudo isto lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos." 1 Coríntios 10:11

Ao nos dar o Velho Testamento, o Senhor desejava que tomássemos os exemplos do Seu povo, os hebreus, para que pudéssemos ser avisados sobre como proceder, sendo nós, agora, o Seu povo. Não podemos pensar que as Escrituras no Velho Testamento são histórias desconectadas de nossa realidade. Por isso, podemos tomar alguns exemplos para que sejamos alertados quanto aos inúmeros perigos que nos cercam constantemente e, assim, seguirmos, de perto, os passos de nosso Amado Salvador, até aquele dia em que estaremos com Ele para sempre.
Neste artigo, a intenção é mostrar alguns perigos que rondam a Igreja, Corpo de Cristo, em sua caminhada pelo mundo. Temos visto acontecer em nossos dias o que já havia sido profetizado pelo nosso próprio Senhor, quando do Seu encontro com o apóstolo João, descrito em Apocalipse, do que a cristandade se tornaria: um grupo de pessoas dizendo-se rico e abastado, sem nenhuma necessidade, mas, na verdade, desconectada da Cabeça, que é Cristo (Apocalipse 3:14-21).
Que o Senhor possa utilizar Sua própria Palavra para que possamos comprar dEle mesmo, ouro provado no fogo, vestes brancas e ungir nossos olhos com colírio, enquanto ainda há tempo. 

Caim – Advertência à Igreja quando busca sua satisfação no entretenimento do mundo.
Abel – Exemplo para a Igreja que não deve possuir nada além do Cordeiro e que dá, com a sua morte para o mundo, o testemunho vivo que agrada a Deus.
Abraão – (tendas) Exemplo para a Igreja que deve ver o futuro e não fixar raízes neste mundo.
– (Cidades) Advertência à Igreja que não possui visão do propósito eterno de Deus e fixa suas raízes neste mundo.

Caim e Abel:
Os dois primeiros filhos de Adão e Eva certamente ouviram dos pais o que lhes havia acontecido no Éden, sabiam da forma como Deus perdoou sua ofensa, cobrindo-os com peles. Provavelmente ouviram da folha de figueira, uma forma humana e inútil de cobrir a nudez, a primeira forma de religião na face da terra.
Caim se tornou lavrador. Isso mostra o quanto ele era atraído pela terra. Dali extraiu o fruto que ofereceu a Deus como sacrifício. Ele deve ter pensado: “- Vou oferecer a Deus o melhor que tenho!” Era o fruto de seu árduo trabalho. Deus não se agradou dele. Abel trouxe uma oferta do seu rebanho. Abel entendeu o recado. Ele não podia oferecer a Deus nada além daquilo que Deus mesmo havia estabelecido. O primeiro sacrifício havia sido feito por Deus para cobrir seus pais. Esse era o princípio.
E Caim falhou. Aborreceu-se e matou a seu irmão. Fracasso, inveja e morte!
Tomando essa lição para a Igreja do Senhor Jesus, podemos ver dois caminhos que podemos tomar como o povo escolhido de Deus. Podemos ser como Caim. Trabalhamos, nos esforçamos, cultivamos a terra, produzimos e daí, oferecemos a Deus o trabalho de nossas mãos. Deus não aceitará!
A Igreja tem feito assim. Segue seu próprio caminho, se acomoda ao mundo, trabalha, produz e oferece a Deus daquilo que ela mesma produz. Infelizmente, a maioria das obras são palha, madeira e feno. Essas três coisas não são encontradas na natureza? E é esse tipo de obra que a Igreja tem produzido e apresentado diante de Deus. O Senhor não receberá! Ele não muda nunca. Nosso Deus é o mesmo Deus que rejeitou a oferta de Caim, pois sua oferta não condizia com Sua natureza Santa.
Mas a Igreja pode ser como Abel. Ele era um criador de ovelhas. Ele não usufruía da carne do seu rebanho, mas as criava para oferecê-las a Deus. Não sabemos se ele usava sua lã para cobrir sua nudez, mas se fazia, era também um tipo interessante. Alguém tinha que perder para que outro pudesse ter. Mas, o mais importante é o que a Bíblia diz: “Abel, por sua vez, trouxe das primícias do seu rebanho, e da gordura deste.” (Gn.4:4). Era tudo o que ele tinha. Ele cuidava dos seus rebanhos, pois elas serviriam como substitutas dele. A Igreja não deveria ter e nem oferecer nada além do Cordeiro. Ele é tudo o que ela tem, seu maior tesouro e seu maior bem. “Quem mais tenho eu no céu? Não há outro em quem eu me compraza na terra.” (Sl. 73:25).
Abel foi assassinado. Ele não encontrou lugar na terra. E a Igreja não deveria ter lugar nesta terra. A morte para o mundo é a saída dele. Não podemos viver apegados ao mundo. O testemunho de Abel fala até hoje, porque ele morreu para o mundo.
Caim, pelo contrário, fugiu! Foi para o mundo e ali construiu a primeira cidade. Agora não há mais tendas. As tendas falam de peregrinação. Não se tem raiz quando se vive em tendas. A qualquer momento pode-se mudar. Mas Caim construiu uma cidade e fincou suas raízes definitivamente no mundo. A partir daí todo tipo de invenção tem início. Seus descendentes seguem seu exemplo e se tornam assassinos e apegados ao mundo. Caim era do maligno! Há, porém, uma lição para a Igreja em sua vida, também. A Igreja deixou de ser peregrina e se apegou ao mundo. Criou cidades com todos os seus entretenimentos. O seu Senhor, Aquele que deu Sua vida Santa para que ela viesse à vida, está do lado de fora batendo, mas o barulho lá dentro é tão grande que não há como ouví-lo. Aqueles que ouvem abrem e Ele entra e tem estreita comunhão com eles.
E não é assim mesmo? A Igreja está cheia de projetos, cheia de atrações. Há de tudo e para todos os gostos. Transformamos a música do mundo em música gospel. Aliás, tudo é permitido desde que se coloque o rótulo “gospel”. É como se essa palavra santificasse o que se traz do mundo. E oferecemos isso a Deus. Ele não aceitará!
Deus é Santo, Santo, Santo! Nele não há mudança. Ele não rebaixa o Seu padrão para se adequar à raça humana. E a Igreja caminha, como Caim e seus descendentes, criando, criando e criando...


ABRAÃO E LÓ:
Outros exemplos interessantes para Igreja podem ser encontrados, ainda em Gênesis. O livro das origens nos ajuda a entender muitos princípios importantes. Podemos tomar os exemplos de Abel e Caim, Abraão e Ló para nós de maneira individual. Eles representam os cristãos, sem dúvida. Mas também são exemplos importantes para a Igreja. Aliás, a Igreja deveria ser um assunto importante. Não podemos ler a Palavra de Deus, mesmo no Velho Testamento, sem enxergar ali a Cristo e seu Corpo, tipificado de muitas maneiras. Cristo hoje é corporativo. Não podemos deixar de considerar a Igreja, e isso não fere a centralidade de Cristo, pelo contrário, como a Igreja está em Seu amável coração, isso O honra e O glorifica.
Abrão recebeu um chamado de Deus que lhe disse para sair do meio de sua parentela e partir. Para onde? Para um lugar que Deus lhe mostraria. E Abraão foi. Porém, ele não deixou a sua parentela totalmente. Ló foi com ele.
Ló não teve revelação, ele apenas seguiu a Abraão. Aonde Abraão ia, lá estava Ló. Deus certamente não se esqueceu dele. Deus não faz acepção de pessoas. Não há diferença para Deus entre Ló e Abraão no sentido de receber de Sua graça e Seu amor. Aliás, Ló poderia ter tido sua própria experiência com Deus, mas não teve.
Abraão sabia bem o que estava fazendo. Ló não. Na verdade, parece que ele tinha outros interesses ao seguir Abraão. Isso se evidenciou quando teve que fazer sua escolha. Ele procurou as campinas mais verdes e foi em direção a Sodoma.
Como podemos extrair exemplos para a Igreja da vida desses dois homens? A Igreja foi chamada, assim como Abraão, para ser um testemunho de Deus, que tinha a intenção de fazer algo grande em sua vida. Ele prometeu fazer uma grande nação daquele homem. Deus tem um plano, um projeto para a Igreja. Os que foram chamados para fora (Ecklesia) têm uma cidade futura, que não tem fundamentos neste mundo, e é para lá que caminha. Abraão não sabia onde era a terra, porém estava caminhando, seguindo a Deus. E a Igreja deve seguir ao Cordeiro aonde quer que Ele vá.
Abraão é um tipo da Igreja como alguém que, mesmo falhando muitas vezes, jamais teve raízes neste mundo. Ele habitava em tendas. Mesmo na terra da promessa ele continuou habitando em tendas. Ele não tinha aqui cidade permanente. A Igreja deve ser peregrina. Ela, a exemplo do seu Senhor que, quando esteve na terra não encontrou um local para reclinar sua cabeça, também não tem um local de descanso aqui. Abraão viu a Deus! Ele tinha visão, ele sabia a quem estava seguindo. A Igreja deve ver o Senhor Jesus e saber que é a Ele que ela está seguindo.
Ló não possuía qualquer visão. Ele não tinha visto ou ouvido Deus. Seu coração estava apegado a esta terra. Era conveniente, para ele seguir o tio rico. Ele é um tipo da Igreja que não tem uma visão clara do propósito de Deus. Vamos encontrá-lo dando um testemunho fraco em Sodoma. Antes, porém, vemos Abrão e Ló se separando por causa dos seus rebanhos. Ló teve sua chance de buscar a Deus e entender Sua vontade. Não seria imaginação dizer que Ló conhecia o chamado de Abraão. Ele estava com o tio, havia deixado sua terra. Agora chegou a hora de seus corações serem provados. Ló escolheu pelo que viu. As campinas mais verdes e atrativas ganharam seu coração. E a Igreja foi aprisionada também por campinas verdes. E, como Ló, tem estendido suas tendas até a cidade. Nós a encontramos agora, a exemplo de Ló, dentro da cidade. Ela está lá, legislando, tentando dar um testemunho, porém, na hora da crise, a como aconteceu com ele, ela será considerada como estrangeira e não será respeitada. A Igreja, como Ló, se apegou ao mundo. Tem até uma pseudo influência sobre ele, mas ela não é parte do mundo e nunca será. Mas seu coração, a exemplo do sobrinho de Abraão está preso ao mundo. Quando a destruição veio à Sodoma, mais uma vez se evidencia o que havia no coração de Ló. Ele não quer ir para o monte, mas para uma cidade, ainda que pequena. Podemos querer, como Igreja, deixar o mundo, mas o grande risco é de edificarmos cidades menores. Não aconteceu assim com ela.
Abraão estava em sua tenda e não foi afetado pela destruição das cidades de Sodoma e Gomorra. A Igreja, ainda que no mundo, deve estar fora dele. Suas formas vazias de atração não podem e não devem ser usadas por ela. Abraão tinha visão! Canaã era seu destino e ele não se deixaria ficar em Sodoma ou Gomorra. A Igreja não pode se deixar enredar por sistemas mundanos, nem sob pretexto de se tornar um testemunho de Deus para os perdidos, por estar entre eles. Estamos entre eles, porém não fazemos parte de seus sistemas. E a Igreja hoje usa de estratégias mundanas para atrair os perdidos. Por isso, há uma falsa impressão de sucesso. Porém, o que se encontra são pessoas que não dão um testemunho real de terem estado com o Senhor. A Igreja se misturou tanto com o mundo e com os seus métodos, que perdeu sua identidade. Agora, como sair do sistema? O coração já está aprisionado a ele.
E quanto ao testemunho? A Igreja não tem outro caminho a não ser o caminho de Abel. A morte para este mundo é o grande testemunho que podemos dar. Ao invés disso, ela tem se tornado uma cidade cheia de atrativos. Como Caim e os seus descendentes, criamos toda forma de entretenimentos que atraem as pessoas, mas não as conduzem a Cristo. Afinal, é muito melhor ir à uma “igreja” cantar e ouvir músicas do que ir a uma danceteria. Na primeira não há a violência que encontramos na segunda. E a música nem precisa ser diferente, basta ter o rótulo “gospel” nela. Ou o que pode ser melhor para os pais do que eles e seus filhos assistirem a um espetáculo de dança sem que as moças estejam seminuas? Temos isso nas “igrejas” e também é “gospel”. Outras tantas coisas poderiam ser acrescentadas, porém essas bastam para mostrar como a Igreja perdeu sua essência. Não é ótimo ouvir no domingo uma mensagem agradável? Para que falar de pecado, de condenação, quando podemos dizer que Deus está desejoso de nos fazer ricos? É muito melhor dizer que Deus só deseja nos ver prosperar materialmente do que lamentar e chorar nossas misérias, como diz Tiago (Tg 4:9-10).
Daí não deveríamos estranhar o fato de o Senhor ter sido tão "duro" com Laodicéia. Ela não recebe da parte do Mestre qualquer elogio. Mas ela não é abastada e rica, de nada tendo falta? Não é uma cidade perfeita e completa onde se encontra de tudo e para todos os gostos? Não há nela passatempos para todos? E nem é preciso que o Senhor esteja nela, e Ele não está, pois permanece do lado de fora batendo, sem ser ouvido pelo barulho ensurdecedor de suas músicas e pregações que agradam ao coração humano.
Esse é o caminho de Ló. E seu fim é trágico. No final os moradores da cidade falam a verdade a ele. Não passa de um forasteiro. Eles nunca se identificaram com ele e ele não poderia se identificar com eles. A Igreja não tem parte no mundo. Na hora da provação, o mundo não vai ter misericórdia dela e, se não fosse o Senhor, ela seria destruída. Não há amizade com este mundo.
Há porém o testemunho de Abraão e de Abel. Não há outra oferta, não há nada que se possa oferecer, a não ser o Cordeiro. Se Ele não agradar ao mundo, não devemos oferecer qualquer outra coisa. Uma porque não temos, aí teremos que produzir, e outra porque Ele é Aquele em quem Deus tem seu prazer. E é nEle que a Igreja tem que ter seu prazer. E a Ele que ela deve se sujeitar e o seu testemunho tem que mostrar Cristo ao mundo, nada mais. É a grande verdade! Não temos outro nome sobre nós! Não temos outro testemunho a ser dado! Não há outra oferta que possamos fazer! É Cristo, Cristo e Cristo. Ele é tudo! Ele é a Cabeça da Igreja, que é Seu corpo e tem que dar as ordens. Sua Palavra é imutável e deve ser obedecida plenamente. Se O vemos, O seguimos para onde quer que Ele vá, mesmo que seja para o local onde a campina não é tão verde e não há uma cidade que traga distração.
Pode parecer, aos olhos humanos, a escolha errada. Não devemos fazer acréscimos, tentar, com nossa imaginação, construir um lugar de refrigério. Não há promessa de refrigério para nós, a não ser quando Ele se manifestar do céu. A Igreja não é lugar de passatempo, não é lugar para exercitarmos nossa imaginação fértil. Não podemos usar nossa cabeça, como fez Caim e sua linhagem, criando instrumentos e mais instrumentos, construindo uma cidade e se separando de Deus. Ali não se houve Sua voz. Não podemos fazer como Ló, que escolheu a campina mais verde, indo até a entrada da cidade, e depois é encontrado como um cidadão importante naquela cidade, cheia de sujeira e impiedade, a ponto de Deus destruí-la.
A Igreja está, neste momento, associada com o mundo que será destruído em breve, utilizando dos seus recursos livremente. Está, como Ló, assentada às suas portas, dando palpite, fazendo julgamentos, dando a impressão de estar fazendo um trabalho para Deus. Porém Deus já deu o seu veredito sobre essa cidade. Ela será destruída e todos os que nela habitam também serão.
A Igreja, repito, é peregrina. Seus métodos não são deste mundo. Seu formato não é deste mundo. A Bíblia é seu padrão e é a ela que devemos obedecer. Há um chamado para voltarmos a Jerusalém e reconstruí-la. Ela está destruída. Seus muros foram queimados e nada há ali, além de devastação, mas ela é o centro da vontade de Deus. O testemunho de Cristo deve ser levantado pela Igreja neste mundo. Ele não enviará Seus anjos para fazê-lo. Os cristãos são os vasos e a Igreja é que deve manifestar a glória e a vontade de Deus. Fazer isso significa se desapegar do mundo e rejeitar toda obra humana, mesmo aquelas que têm um rótulo “gospel”, mas que não passam de atrações mundanas revestidas de algo religioso. O testemunho do amor fraternal que Caim jamais deu e de desprendimento do mundo, no qual Ló falhou, é o que se espera da Igreja. E não é construindo cidades ou fugindo para elas que daremos um verdadeiro testemunho de Deus e do Seu Cordeiro.

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